Muita coisa pra escrever. Mil revozeios ficam macaqueando minha mente e mãos. Mas, tudo será aguado, diante disto:
Página 48 da 29ª Edição da Editora Nova Fronteira
"Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no vale do Araçuaí, discorre me dizeno que a vida da gente encarna e desencarna, por progresso próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar - é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. Mas, senão tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada - erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Dor não dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos - não dói sem precisar de se ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver - a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. Se eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este. Nasci para não ter homem igual em meus gostos. O que eu invejo é sua instrução do senhor..."
E, apenas em cinquenta paginazinhas, ainda tem:
"Amor? Pássaro que põe ovos de ferro" pag. 48
"Eu sei: nojo é invenção, do Que-Não-Há, para estorvar que se tenha dó." 47
"Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho..." 46
"Olhe: Deus come escondido, e o diabo sai por toda parte lambendo o prato..." 44
"Moço: toda saudade é uma espécie de velhice." 30
"Não sou homem de meio-dia com orvalhos, não tenho a fraca natureza." 27
E se falar de amor assim:
"- mas Diadorim é a minha neblina..." 16
E,para eu não ter que digitar 50 páginas, pra terminar:
"A gente viemos do inferno - nós todos - compadre meu Quelemém instrui. Duns lugares inferiores, tão monstro-medonhos, que Cristo mesmo lá só conseguiu aprofundar por um relance a graça de sua sustância alumiável..." 38
Mais um, mais um:
"Confesso. Eu cá não madruguei em ser corajoso; isto é: coragem em mm era variável. Ah, naqueles tempos eu não sabia, hoje é que sei: que, para a gente se transformar em ruim ou em valentão, ah basta se olhar um minutinho no espelho - caprichando de fazer cara de valentia; ou cara de ruindade! Mas minha competência foi comprada a todos custos, caminhou com os pés da idade. E, digo ao senhor, aquilo mesmo que a gente receia de fazer quando Deus manda, depois quando o diabo pede se perfaz." 35
***
Eu sei. Nós vamos, não devíamos, mas vamos continuar escrevendo. Mas, isto é terapia. ´Mas, você também sabe, Literatura é outra coisa.
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