No primeiro dia na China, visitamos dois colégios – equivalente aos nossos ensino médio e, no Hebei Zhengding High School (河北正定中学), na cidade de Shijianhang, conheci a jovem Ly Quan Nuo (foto 2). É que nossa visita, financiada pelo governo chinês, tem o objetivo de oferecer aos alunos uma vivência do inglês (no meu caso, algo muito difícil de receber esse nome) e da realidade de diversos educadores do mundo. Então, quando nós, cerca de 30 educadores e um time de futebol americano, descemos do ônibus, um grupo de animados alunos nos recebeu com sorrisos, curiosidades e um desejo de mostrar seu mundo.
Ly é animada, inteligentíssima e insegura como toda adolescente dedicada que sabe o tamanho da concorrência do Gaokao, ou Exame de Acesso ao Nível Superior, um dos mais difíceis do mundo, se não o mais difícil. Mas, quando lhe pergunto sobre qual carreira deseja seguir, ela, com toda a intensidade de sua juventude, responde: “Não sei. São tantas possibilidades!” – e me arrebenta o coração pensando nos meus alunos brasileiros.
No tour pelo colégio, que me parece maior que o campus da UFF na Cantareira, em Niterói (foto 3), Ly me leva a uma sala de maquetes produzidas pelos alunos e me deixa impressionado. Os trabalhos, se eu entendi bem o processo, são projetados no computador e, em seguida, têm suas peças recortadas a laser para o encaixe final (fotos 4 e 5) – nunca vi nada parecido no Brasil, nem quando fui professor contratado do Pedro II.
Por fim, chegamos à sala de robótica e o susto é maior: aqui, os robôs feitos pelos alunos são drones de mais de um metro de largura (foto 6).
Terminando esse primeiro dia, Ly me leva para conhecer os jardins do colégio e vejo a estátua mais tocante que verei nessa minha curta estadia na China (só cinco dias!): uma mão adulta segura uma mão de criança que escreve (foto 1). Através da professora Ana Qiao, fico sabendo que o texto na obra revela ser um presente dos alunos que se formaram em 2024 para o colégio. Foi uma visita inesquecível de apenas duas horas.
No dia seguinte, voltamos ao colégio. É o dia da nossa apresentação (em inglês) para os alunos das turmas que nos receberam. Mais uma vez, Ly me recebe com um sorriso. Enquanto esperamos que as cerimônias comecem, ela me mostra os trabalhos que faz para as aulas de desenhos (fotos 7 e 8). Todos seguindo o padrão do mangá e, na minha opinião, todos perfeitos – embora sua professora tenha encontrado alguns problemas.
Num grande salão do colégio, as autoridades fazem suas falas e, em seguida, somos encaminhados, a organização do evento, nós e os alunos, para outro auditório, onde terá lugar nossa apresentação (coloco o texto ao final). Ly fica tensa tentando entender cada palavra (e sotaque) em inglês dos diversos apresentadores e vibra, junto com seus colegas, quando tentamos uma ou outra palavra em chinês – gentileza que eles retribuem com aplausos.
Entao o evento termina e nos encaminhamos para a despedida. Dou um abraço em Ly que, provavelmente orientada por seus professores sobre essa forma de cumprimento dos brasileiros, me retribui com um gesto imenso. Agradeço o carinho dessa menina e digo que lhe escreverei – e escreverei sobre nosso encontro. Ela sorri. Entro no ônibus e, quando olho para fora, lá está ela me acenando, se despedindo e, então, chorando. Eu, um homem maduro, olho e digo com sinais que não pode chorar, mas, como ela não para, eu também começo a chorar – e é a vez dela, com sinais, dizer que não pode chorar.
A pequena Ly, essa chinesinha talentosa e inteligente, me deu uma esperança no mundo que, aí sim, algumas vezes, encontro nos olhos dos meus alunos.
A você, Ly, meu desejo de que você conquiste o seu objetivo, quando ele chegar, e que, no caminho, divirta-se muito.








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