Múltiplo Brasil, múltiplas famílias
A ideia de família, como a
entendemos, está muito ligada à religião judaico-cristã e, por símbolo maior, à
família de Jesus, filho de Maria, a mãe exemplar, a santa, e José, o
carpinteiro, portanto, aquele que trabalha fora e deve sustentar a casa. Pela
violência da conquista, a família cristã suplantou outras possibilidades de
família, pelo menos no imaginário social, não havendo espaço para a família dos
povos originários e, muito menos, dos africanos escravizados.
Por outro lado, boa parte da
família real brasileira é, conforme o antropólogo Darcy Ribeiro, em “O povo
brasileiro”, ou a literatura de João Ubaldo Ribeiro, em “Viva o povo
brasileiro”, fruto do estupro generalizado das mulheres indígenas e africanas –
cujos filhos permaneceriam como propriedade do colonizador-violador. De lá para
cá, salvas as exceções que confirmam a regra, os herdeiros dessa violência
formam o grande exército de mão de obra barata, composta por mães solteiras que
lutam para manter seus filhos longe do crime, da cadeia e dos cemitérios.
Neste sentido, a literatura de
Conceição Evaristo, sobretudo no livro “Olhos d’água”, é representativa dessa
variedade das estruturas que também compõe a família brasileira. Em seus 15
contos, aparece uma sequência de possibilidades de famílias – nenhuma delas
semelhante às que dominam os comerciais de margarina, ou o protagonismo das
telenovelas.
Desta forma, o esforço por
uniformizar a ideia de família, através dos discursos de políticos de história
muito pouco familiar, responde à continuação da violência que possibilitou o
apagamento de outras formas da organização básica da sociedade, conforme
denuncia a nossa literatura. A população brasileira é um conjunto de partes
distintas, de modo que sua família deverá ser, igualmente, de múltiplos
formatos.
Observação:
Este é um exercício de escrita de um professor de língua portuguesa para ajudar seus alunos e alunas a ter modelos de redação que se aproximassem do ideal cobrado na prova da UERJ. O modelo não passou por nenhuma revisão da UERJ.
O tema surgiu a partir da leitura do livro "Olhos d'água", da escritora Conceição Evaristo.
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Para pensar no assunto, vale a pena assistir também o vídeo "Nossa família existe", disponível no YouTube, em NossaFamíliaExiste.
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