Terminei a leitura do famoso livro deste inglês, socialista, nascido na Londres de 1478, e decapitado aí mesmo, em 1535.
Este cidadão era amigo de Erasmo de Roterdão, autor de “O elogio da Loucura”, logo, não poderia terminar em coisa boa. Um inimigo da corte, nos tempos da corte, mesmo sendo rico, não terá vida... ...fácil.
A vida moderna já ensinou, infelizmente, ou não, que é prudente rir das piadas do rei, ainda que seja enquanto se afia o punhal, enquanto se prepara a cicuta.
O livro de Thomas Moore, forma latinizada, é, mais uma vez sob o olhar dinâmico, informatizado, impessoal e cheio de efeitos especiais das lentes dos modernos quadrinhos do capitalismo individualista, um enfado, uma viagem que, digamos, beira o romantismo.
Há quem afirme ser o Cristo o primeiro dos comunistas da humanidade – claro, não discutamos a questão de "a César o que é de César", nem o desconhecimento de Sidartha Gautama e de Platão, embora, cabe lembrar, que, neste último caso, a igualdade grega era desigual, enfim –; o que importa é que não recordo de nenhuma construção anterior que tentasse “documentar” um pensamento comunista, ou, – tudo bem, tudo bem, como esta palavra está ligada demais à Alemanha hitlerista, usemos ‘socialista’, que também está cheia de buracos feitos à bala, mas que, parece, não encontrou seu lugar no subconsciente coletivo – intelectualizado, ou não.
Moore, assim como Erasmo, é um denunciador e, embora, como já disse, o texto se alongue em buracos que, hoje, “esvaziados”, até por desconhecermos seus caminhos, oferece excelentes partes para uma reflexão muito interessante de nossa sociedade, justificando, desta forma, a imperecividade do autor e do texto.
Tais como:
“Quando me entrego a esses pensamentos, faço inteira justiça a Platão e não me admiro que ele tenha desdenhado legislar para os povos que não aceitam a comunidade dos bens. Esse grande gênio previra facilmente que o único meio de organizar a felicidade pública, fora a aplicação do princípio da igualdade. Ora, a igualdade é, creio, impossível num Estado em que a posse é particular e absoluta; porque cada um se apóia em diversos títulos e direitos para atrair para si tudo quanto possa; e a riqueza nacional, por maior que seja, acaba por cair nas mãos de um reduzido número de indivíduos, que deixam aos outros apenas a indigência e a miséria.”
Ou, em tempos de “Fashions”:
“Os utopianos classificam nessa espécie de prazeres bastardos, a vaidade daqueles de que já falei, que se crêem melhores porque usam uma roupa mais bonita. A vaidade desses tolos é duplamente ridícula.”
“Em primeiro lugar, consideram suas roupas acima de suas pessoas; pois, quanto ao que é de uso, em que, vos pergunto, uma lã mais fina prevalece sobre uma lã mais grossa? Entretanto, os insensatos, como se se distinguissem da multidão pela excelência de sua natureza, e não pela loucura de seu comportamento, erguem orgulhosamente a cabeça, imaginando valer um grande preço. Exigem, em virtude da rica elegância de suas vestes, honras que não ousariam esperar com um traje simples e comum; mostram-se indignados quando se olha a sua roupa com um olha de indiferença.”
Ou, em tempos de exarcebação da violência:
“Não é mais fatigante do que agradável ouvir cães ladrarem e ganirem? Em que é mais divertido ver correr um cão atrás de uma lebre do que vê-lo atrás de outro cão? Entretanto, se é a corrida que faz o prazer, a corrida existe nos dois casos. Mas não é antes a expectativa da morte, ou a espera da carniceria o que apaixonam os homens pela caça? E como não abrir mão à piedade, como não ter horror a esta matança, em que o cão forte, cruel e audaz, dilacera a lebre fraca, tímida e fugitiva?”
E, o que mais me interessou:
“Dir-se-á talvez: Seis horas de trabalho por dia não são suficientes para as necessidade do consumo público, e a Utopia deve ser um país miserável.”
“Mas não é este realmente o caso. Ao contrário, as seis horas de trabalho produzem abundamente para todas as necessidades e comodidades da vida, e ainda um supérfluo bem superior às exigências do consumo.”
“Compreendereis facilmente se refletirdes no grande número de pessoas ociosas existentes nas outras nações. Antes de tudo, são essas quase todas as mulheres, que em si já constituem a metade da população, e a maioria dos homens, ali onde as mulheres trabalham. Em seguida, esta imensa multidão de padres e religiosos vagabundos. Somai ainda todos esses ricos proprietários vulgarmente chamados nobres e senhores; acrescentai também as nuvens de lacaios e outro tanto de malandros de libré; e o dilúvio de mendigos robustos e válidos que escondem sua preguiça sob o disfarce de enfermidades. E achareis, em resumo, que o número dos que, por seu trabalho, provêm ao gênero humano de todas as necessidades é bem menor do que imaginais.”
“Considerai também como são poucos aqueles que a trabalhar estão empregados em coisas verdadeiramente necessárias .(E A PESQUISAR VIRGULAS E TRÊS PONTOS.) Porque, neste século de dinheiro, onde o dinheiro é o deus e a medida universal, grande é o número das artes frívolas e vãs que se exercem unicamente a serviço do luxo e do desregramento. (E POR QUE NÃO DIZER, DE SI MESMAS.) Mas se a massa atual dos trabalhadores estivesse repartida pelas diversas profissões úteis, de maneira a produzir mesmo com abundância tudo o que exige o consumo, o preço da mão de obra baixaria a um ponto que o operário não poderia viver de seu salário.”
“Ora, o que afirmo aqui, na Utopia está provado pelos fatos. Em toda a extensão de uma cidade utopiana, inclusive seu território, não mais quinhentos indivíduos, compreendidos os homens e mulheres com idade e força de trabalhar, existem isentos por lei. Neste número estão sifograntes; mas mesmo esses magistrados trabalham como os outros cidadãos a fim de estimulá-los pelo exemplo. Este privilégio se estende também aos jovens que o povo destina às ciências e à artes, por recomendação dos padres e conforme os sufrágios secretos dos sifograntes.”
E para terminar:
“Praza a Deus que isto aconteça algum dia!”
“Porque, se de um lado não posso concordar com tudo o que disse este homem, aliás, incontestavelmente muito sábio e muito hábil nos negócios humanos, de outro llado confesso sem dificuldade que há entre os utopianos uma quantidade de coisas que aspiro ver estabelecidas em nossas cidades."
“Aspiro, mais do que espero”
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Eu também.
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As marcacões em negrito, bem como os comentários em maiúsculas, são meus, claro.
Comecei a leitura deste e devo a leitura dos contos. Quero parar para resolver esta parte semana que vem.
ReplyDeleteBlogue novo no ar:
habilis1.blogspot.com
Ótima semana!