21.11.23

Meu coração tem botequins imundos


A Aldir Blanc e Augusto dos Anjos
Meu coração tem botequins imundos
Onde cantam derrotados e contadores de estórias
A festa louca da fera fé dos vagabundos
Que vivem de narrar na Sé suas desventuras inglórias.
E à noite, quando a derradeira vem fechar-lhes as portas,
Despedem-se felizes como que perdoados,
E parte, perdido, cada um para cada lado,
Na ordem trôpega de tantas tontas pernas tortas.
Levam na memória a oração dos bons pecados
E no coração o conto do consolo dos desvalidos
Que misturam em si os sons santos e os danados
Cuja oferenda maior é estarem sempre esquecidos
Na ladainha dos heróis brancos, ou encouraçados,
E suas batalhas fúteis por moedas e mercados.

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