3.1.24

Cartas a minha mãe



Estava olhando o filho de minha mãe - e te vi, mãe, tímida, no filho dotor, no filho grande que ficou de pé - apesar da cabeça grande e da perna torta. Anjo estatisticamente drummondiano. E.

Olhando o desfazer das frases, o esfumaçar-se das palavras que o tempo escondeu - em mim; li algum texto teu - que, claro, você deixou que eu escrevesse. E.
O texto estava, mesmo, é te agradecendo - vaidosa, justa fazedora de milagres: os teus filhos, que sobreviveram, sobreviveram e puderam cometer os próprios pecados. De modo que.
Estamos aqui. Estamos aqui. Ninguém nos derrubou! Não nos vendemos! Não nos corrompemos. Não escolhemos a guerra - e, apesar de ter me tornado este velho precoce, tenho tentado não incomodar ninguém.
Tenho me tornado mais chorão, como você achava que seria bom. (Helena ajudou.) Tenho torcido por todos os times, tenho evitado as brigas menores e tentado dar presentes nas datas comerciais.
Você estaria orgulhosa de nós.

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