27.3.24

Diálogos de “o livro dos saltos”, com Cristovão Duarte

Escrever um livro é iniciar um diálogo, ou continuar um que você nem sabia – daí que a originalidade é uma vã vaidade e um correr atrás de vento.

Ano passado, através do amigo Paulo César Ribeiro, dedicado guerreiro da TV Resistência Contemporânea, que, ciente da necessidade de ocupar espaços e disputar narrativas, mantém bravamente um programa semanal de debates, enfim, Paulo me apresentou ao professor e desenhista Cristovão Duarte, cujas ilustrações me encantaram imediatamente. Tanto que, no lançamento de “o livro dos saltos”, um desenho dele homenageando Paulo Freire estampava a minha casa.

Estes dias, Cristovão, lendo "o livro dos saltos", me mandou uma mensagem falando sobre o conto/crônica nº 21 e de desenhos que ele produzira em 2020. O diálogo:

História 21

O desenhista organiza a cadeira perto da mesa. O lápis e o papel estão prontos. Sua fé e seus cabelos, brancos. O olhar cansado.



A mão vacilante obedece a um costume. Segura o lápis com carinho, enquanto a outra inclina um pouco a posição da folha. Então, o corpo debruça-se e começa.

Os traços querem-se os mesmos. Um desenho infantil. Talvez uma criança que brinca num balanço de uma dessas praças por aí. Abrindo um comercial no meio do intervalo.

 


O desenhista pode sentir o riso da criança. Pode sentir o vento do balanço provocado pelo movimento do corpo do menino. Os braços dobrados pra trás. O tronco pra frente. As pernas dobradas. Depois, os braços esticados pra frente, o tronco todo jogado pra trás e as pernas também esticadas. O balanço parece que vai mais alto agora. E mais alto...



O desenhista está feliz com o menino. Pode sentir que o céu é azul e que uma nuvem bem branca aqui e ali enfeita o cenário.

 

Então, o desenhista descansa o lápis.

 

***

Troco os óculos e vejo as costas de um homem em cima de uma mesa de desenho. Ele dorme?


 

*****

O diálogo (porque isso é um diálogo) deixa uma provocação.


Já é a mão da própria história/desenho que se escreve/desenha e, claro, o que importa é a continuação da história.

***

Cristóvão, obrigado.


2 comments:

  1. Cristovao Duarte5:17 PM

    Querido Maximo, sigo lendo teu livro de contos em estado permanente de encantamento!
    Obrigado pela bela apropriação dos desenhos que te enviei. Enfim uma parceria (já sonhada) se anuncia!

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  2. Anonymous9:27 AM

    Olá, meu amigo. Espero que essa parceria nos dê muitos trabalhos que nos encham de alegria. Seus trabalhos são sensacionais! Obrigado por compartilhá-los.

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