16.4.24

Aniversário da Menina do lado de cá – 22 anos


No dia 17 de abril de 2002, eu me sagrei bicampeão do mundo (o primeiro título sendo o Menino Voador, por aqui desde 1994) e o mundo ganhou Helena, minha pequena Luíza. Nasceu em Niterói e Niterói nasceu pra mim em significado generoso – a menina que iria inaugurar um mundo todo outro dentro de mim e ser eu menina.

Era fundamental me reaprender: tudo o que eu sabia até ali era sobreviver e receber o abraço do meu filho. Helena veio falar de vida de verdade. “Não precisa mais da armadura, pai. Já tá bom.” Era preciso aprender a ser menina. (E como eu demorei! Como foi difícil!) Foi quando eu comecei a chorar com comerciais dos dias dos pais, com história de filhos com seus pais. Quando brigar não significou interromper, acabar. Quando o eterno de Vinícius fez sentido dobrado.

Eu nasci pai com Marcus, mas com Helena aprendi outro tipo de força, daquela que nada tem a ver com o corpo. É um espírito forte – o que significa não esconder as janelas do desespero, deixar que o rio administre o dia. Cris, a mãe coruja, Marcus, o irmão protetor, e o destino compensaram as minhas faltas – inclusive quando, muitíssimas vezes, me ausentava de mim mesmo. (Com as minhas pernas tortas, drummondiano, eu só podia fazer um caminho torto. Mas todos os caminhos nos levaram juntos, numa unidade de eus.) Muito agora, agorinha enquanto escrevo, descobri que compensamos a falta no outro e vamos nos inteirando: eus é um processo poético. E é nessa eternidade que eu acredito.

Chegamos em 2024, a Helena que me olha é direta, protetora, generosa. (A Menina estaria orgulhosa da Menina que cresceu). Com sua própria fibra, saindo de uma pandemia e do Colégio Estadual Central do Brasil, passou para Ciências Sociais na Unirio, mas, querendo algo mais perto exato, das contas, foi para Engenharia de Automação na Cefet e, finalmente, Sistemas de Informação, na Unirio – isso depois de passar mais de um ano estudando sozinha para minimizar a deficiência nos cálculos. Há olhos que veem uma beldade; eu vejo as mil luas, cada uma com mil temperaturas e temperamentos. Todas compondo um belo poema.

Quando Helena chegou o mundo disse sim e saiu para passear de férias. Era também que o futuro do Brasil começava. Sairia do mapa da fome e abriria universidades e colégios federais pelo presente – e deixava que muitos pobres tentassem outra tradição. Tudo isso porque Helena chegou. Nesse ano, o grupo Tribalistas, da Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, lançou o hit “Já sei namorar” só para ser a primeira música que você repetiria para os ouvidos de um pai assustado.

Quando você nasceu, filha, o mundo fez-se poesias – e eu as estou transcrevendo para você – desde que você nasceu, o pôr do sol tá mais vaidoso e eu ando com um sorriso bobo na boca.

Te amo.

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