27.11.24

Variações de um feliz aniversário – 5.3 anos

 

Sinto-me como aquele garoto que, tendo passado todo o dia pegando doce de Cosme e Damião, à tarde, na entrada da noite, senta-se para desfrutar de suas conquistas e merecidamente lambuza-se na felicidade singela e honesta dos meninos. Vendo a riqueza e a variedade dos doces, não cuidou de estratégias e entregou-se à fartura - "como se não houvesse amanhã (porque, na verdade, não há)". Porém, os amanhãs se juntaram como essas folhas que anunciam a mudança das estações e os doces se foram esgotando - e a saúde já fez exigências.

O saquinho, agora, guarda umas balas, uma maria-mole e muitos suspiros. Com os cabelos canosos, olho-os como quem admira o tempo, tendo aprendido algo, belos poemas: a companhia constante dos amigos, que fizeram o possível para não abandonar a mesa ("e não deixei meu cigarro se apagar pela tristeza"), o abraço firme e o generoso do meu filho, a inteligência e a força da minha filha e a gentileza dos dois para entender que o menino fez o que pôde com os limões que ganhou dos dias e, belos, ainda aprovam a caminhada. Ficam-me um ou dois contos de Borges, algumas músicas do Aldir e do João Bosco, a poesia de João Cabral, Drummond e Gullar... Ficam-me essas preciosidades que escapam ao mercado.

Ficam-me vocês que são eternas em mim.

Agora que estão escasseando, os doces são todos saborosamente meditados e alimentam, na maturidade, a certeza de que, se não dará tempo para ver o mundo todo, já posso repetir alguns prazeres - como reencontrar Diadorim, ouvir Racionais, "Pescador de ilusões" e Rapadura, tentar entender Marx, aprender chinês, conhecer Cuba, ver o Pacífico novamente...

Tá tudo bem. Já é possível caminhar até a ponte e realizar, sem perigo e sem drama, o desejo de balançar as pernas.

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