Ou “a polícia é um meio de se chegar aonde se quer na política”.
Cecília Olliveira tem
representado, junto a outras corajosas jornalistas, uma voz dissonante dentro
de uma regra de cúmplices, ou relativistas sofisticados pelo jargão acadêmico
rasteiro, que domina as mídias inclusive na sua versão internética - alternativa
ou dominante. Seu currículo passa pela criação do Instituto Fogo Cruzado e pela
coordenação “da equipe de comunicação da Redes da Maré, editorando o jornal
Maré de Notícias"¹. A operação de "estranha inteligência" do
setor de segurança do governador Cláudio Claustro me fez reler uma passagem de
seu livro e concluir essa resenha tão atrasada:
No dia em que
estava escrevendo sobre as consequências da impunidade de maus policiais e a
insistência em um modelo ultrapassado e fracassado de segurança pública, houve
uma operação policial no complexo do Alemão e da Penha que durou quinze horas -
foi a terceira megaoperação, com centenas de policiais, em menos de dez dias.
Em 24 de janeiro de 2025. Embora não haja imagens, a PM disse que apreendeu uma
tonelada de drogas. O tiroteio intenso deixou seis mortos e oito feridos.
Dentre essas quatorze pessoas, um policial é dois idosos foram mortos. Um rapaz
estava a caminho do trabalho, um no quintal, outro dentro de casa, e um
jardineiro foi morto enquanto tomava café, perto de uma estação de ônibus. (p.
181).
O livro traz a overdose de
realidade que as intervenções de Cecília costumam oferecer e, terminada a
leitura, vendo a vitória política do insignificante Claudio Claustro, não há
por que acreditarmos numa saída. Eles não repetem a ideia da guerra por inocência,
mas para abrir no imaginário coletivo a autorização para aumentar a barbárie. Na
verdade, tudo indica o contrário: o sucesso do modelo miliciano exportou-se, e
junto com as igrejas evangélicas, vão dominar o país. (Celso Rocha de Barros,
no Episódio do Foro de Teresina, podcast da Piauí, disse que, uma vez terminado
o massacre da semana passada, o Estado retirou-se e as igrejas locais armaram
barracas para acolher os parentes das vítimas.) Em resumo, “a polícia é um meio
de se chegar aonde se quer na política” e, a natimorta candidatura de Claudio
Claustro, o gasoso, ao senado voltou para o CTI.
Creio que para os especialistas de
segurança público, o livro pode não trazer grandes novidades, mas, para a
população-alvo que perambula pelo Rio, é/seria uma leitura fundamental para
entender os meandros que definem sua vida ou morte. No livro, os nomes de
envolvidos com crime (de colarinho branco, ou no alto escalão do organizado) se
repetem numa repetição que levam ao cansaço que o cidadão comum apresenta ao
dizer que não adianta prender os trombadinhas que “vai lá um juizinho e o coloca
na rua em 15 minutos”.
Por exemplo, na situação atual: Victor
Santos², o novo secretário de Segurança do RJ, foi indicado por Flávio
Bolsonaro e estava de 2021 até fevereiro de 2023 como Superintendente da
Polícia Federal de Brasília. Foi a polícia federal de Victor Santos que não “conseguiu”
prender³ ninguém na destruição generalizada que se deu em dezembro de 2022, na
capital do país e sugeriu que os terroristas do 8 de janeiro fossem presos em
suas casas. Como prêmio por seus serviços prestados, assumiu a Secretaria nova
de Claudio Claustro.
No livro:
O recado das mortes dos doze de
Itaguaí
Em se tratando de políticas de
segurança pública, mudança não é algo que acontece com frequência. São anos e
anos apostando nas mesmas medidas, esperando resultados diferentes*. Muita operação
policial, muito tiro, pouca investigação, pouca fiscalização, pouca punição
para desvio de condutas que fazem do Rio um estado conhecido mundialmente por
seu Elite Squad (Tropa de elite), o filme.
Apesar de a operação contra a milícia
de Itaguaí ter sido organizada e executada por forças civis, em vez de militares,
como no filme, as técnicas não diferem muito. A Core é também uma força de
elite.
Falando da operação que matou 12 milicianos
em Itaguaí, ela cita José Cláudio Souza Alves, professor da Universidade Rural,
autor do livro “Dos Barões ao Extermínio: uma história de violência na Baixada
Fluminense”:
Ele frisa que
a operação ocorreu um mês antes das eleições, funcionando como um palanque para
a promoção política das autoridades envolvidas. O então secretário de Polícia
Civil Allan Turnowski e o governador Cláudio Castro eram candidatos. (p. 178)
E aqui vale
rememorarmos um fato nada desprezível. Cerca de dois anos após a posse como
secretário de Polícia Civil, em setembro de 2022, Turnowski foi preso sob
suspeita de envolvimento com o jogo do
bicho. As investigações do Ministério Público, que levaram também à prisão do delegado Maurício Demétrio,
mostraram que os dois policiais planejavam forjar um flagrante de corrupção contra
o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que tentava a reeleição. A ideai era armar um
flagrante e prender o prefeito. Eles foram presos, e Paes reeleito. Allan
Turnowski foi solto logo depois e pode voltar à vida pública a qualquer
momento. (p. 179)
A história se repete e,
tristemente, não há nenhum sinal que nos indique que algo mudou, a não ser no
que se refere ao número de vítimas, escalando.
Essa resenha já vai grande, em tempos
de muita oferta e pouco tempo, de modo que voltarei a ela para ajudar a apresentar
como Cecília Olliveira mostra o modo que nasce um miliciano, embora a maioria
de nós seja capaz de adivinhar.
***
¹ Cecília Olliveira https://share.google/gDUWOxpcA00lbRHwY
² Quem
é Victor Santos, o novo secretário de Segurança do RJ
³Vandalismo em Brasília:
por que ninguém foi preso em atos de bolsonaristas? - BBC News Brasil

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