Após o clima de “Variações sobre um feliz aniversário”, é natural amenizar. A confraternização do aniversário do Fabiano, o retorno do irmão, uma certa certeza de que faremos, ainda que mundo vá realmente acabar, novas festas é reconfortante.
E é importante não esquecer que eu não consegui definir se o defeito está nos olhos, ou na paisagem.
Então, recebi um texto sobre este clima alucinado de festas, esta hipnose coletiva vendida nos comerciais que oferece um mundo melhor com tvs de lcd, celulares, comidas quentes e papai Noel de roupão.
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Oi. Olá...
Vi seu texto. Parei. Precisei localizar quanto naquele texto o também sou eu... sim, porque também sou eu este texto.
É, eu sou capaz de ver tudo isto. É justificável o desânimo. Neste mundo, quem quer ser triste só precisa abrir os olhos. É mais fácil, como faz boa parte das classes média e dominante, se esconder no seu condomínio. Eu, pra tentar um pouco de sobriedade, sempre que estou muito feliz, ouço Belchior e paro de frescura. E freqüento os buracos que sempre freqüentei. Menos agora, é verdade. Mas, tento manter o vínculo que me acorda, que não me permite a anestesia constante de ignorância.
Aliás, eu sei disso de dentro. Nunca estive nas ruas, mas já senti fome. Já comi muita açúcar com farinha. Já fiz muita farofa de farinha quente. Já morei em muita favela, em invasão e outras coisas mais que foram endurecendo o menino.
Não. Não foi amadurecimento. Foi endurecimento mesmo.
Não. Não foi transformação em homem. Foi criação de pedra.
Mas, sei lá. Tudo isso serviu pra quê? Prova o quê? Não prova nada. Não prova que Deus existe, ou deixou de existir. Mas prova que eu sobrevivi mais uns dias e fazer um novo brinde no dia do aniversário e escrever um texto pesado. Mostra que eu posso. E que, se eu posso, todo mundo pode. Ou deveria poder...
Entretanto, eu sei, às vezes, a dor é tudo que se tem. E muitas pessoas não conseguem transformar esta dor em força. Talvez porque fazer isso, seja dar o novo passo. Continuar com tudo o que nos compõe e, ainda assim, renovado. Significa dizer que não dói mais do mesmo jeito... é estranho... Espero que me entenda por inteiro... aos pedaços, eu teria que escrever muita mais e me embolar muito mais.
Claro que eu me pergunto: mas o que você pode? O que você ganhou? E, às vezes, eu não sei. E, às vezes, eu não sei demais. Porém, quase sempre, não há como negar que eu ganhei mais um ano de festa. Que comemorei com os meus filhos, com os amigos.
Permiti-me extrapolar, passar dos limites, sentir vergonha, até me permiti xingar o presidente, o meu vizinho, o meu chefe... permiti-me ficar puto com todos, incluindo os meus filhos, que me salvam todos dias, com os amigos que amo e me tornam possível.
Então, é isso que eu descubro em cada efeméride boba desta, em cada uma destas datas cheias de presentes para pais, filhos, amigos, cheias de festas, cheias de comerciais que promovem um sentimento novo enquanto vendem um velho produto...
Então, é isso que eu comemoro. Comemoro a minha autorização para abraçar minha filha no ano que vem, comemoro o futebol com meu filho. O porre com os amigos. Comemoro o amor que chega e vai embora. Comemoro as tolices, as banalidades. Autorizo-me os insucessos, autorizo-me a ir à praia em dias de chuva... O mundo pode acabar, mas eu me autorizo a sentar no bar, pedir uma cerveja e ver.
Eu me autorizo esta festa, fingindo que estou por cima dos narizes afundados, mas sabendo que todos sentem a mesma coisa e só disfarçam um pouquinha pra também se autorizar...
Feliz-feliz qualquer dia destes (e todos os dias).
Beijão.
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Férias.
O médico me proibiu de acordar antes das 9h.
Pediu que eu parasse com o café e me concentrasse na cerveja e nos meus filhos, e nos amigos.
Disse que eu vou continuar com problemas financeiros, então que parasse de sofrer e comprasse os presentes.
Tá falado.
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É isso aí, se você perambulou por aqui, obrigado por vir, obrigado por me ouvir.
Em 2009, tâmu, dinovo, tudoaí.
Se você passa por aqui, sem querer ou querendo, aquele abraço, boas festas e tenha paz.


